x Nenhum outro tecido do corpo humano pode variar sua taxa metabólica tanto quanto o músculo esquelético. Os músculos ativos podem elevar o nível de seus processos oxidativos em mais de 50 vezes, em relação ao estado de repouso. Esta variação significativa na taxa metabólica cria problemas para as células musculares porque, enquanto o consumo de oxigênio aumenta em 50 vezes, a taxa de remoção de calor produzido, dióxido de carbono, água e metabólitos tem, obrigatóriamente, que aumentar de forma similar. Para manter o equilíbrio químico dentro do organismo há um tremendo aumento nas trocas moleculares entre o interior e exterior das células. Quando os músculos entram em atividade física intensa, a capacidade de manutenção do equilíbrio interno em um nível que permita a continuidade do exercício é dependente da integração de vários sistemas de controle fisiológicos. Por isso, a maior parte das funções do corpo humano é afetada, de uma ou outra forma, pelo exercício físico, seja de maneira crônica ou aguda.



Prof. Dr. Per Olof Astrand

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Regulação da glicemia durante exercício físico em indivíduos saudáveis e diabéticos.

CAMACHO RC, GALASSETI P, DAVIS SN, WASSERMAN DH. Glucoregulation during and after exercise in health and insulin-dependent diabetes. Exercise and Sports Science Reviwes, 2005.

Os efeitos metabólicos do exercício físico e a ação da insulina são intimamente, de modo que é difícil compreender os mecanismos de um sem considerar o impacto do outro. Embora tanto o exercício quanto a insulina promovam a circulação de glicose do sangue para o músculo, eles se opõem nos efeitos sobre a mobilização de combustível a partir dos substratos dos tecidos para o sangue. Um aumento fisiológico da insulina induzida pelo exercício aumenta a produção hepática de glicose e lipólise (quebra de gordura). O pâncreas saudável secreta menos insulina em resposta ao exercício, enquanto que os doentes dependem de insulina exógena também durante a prática do exercício. O efeito prático dessa interação entre exercício e insulina é que as pessoas fisicamente ativas com diabetes têm uma incidência aumentada de hipoglicemia, pois estas podem sofrer uma hiperglicemia durante o exercício, pela diminuição da produção endógena de insulina estimulada pelo exercício. Além disso, o exercício de intensidade moderada leva a um aumento acentuado na captação de glicose muscular. Apesar do aumento da taxa de glicose retirada do sangue, pessoas saudáveis não se tornem hipoglicemia, pois as mudanças na glicose do sangue arterial ocorrem de maneira muito leve, porque a soma dos incrementos em glicogenólise (quebra da glicose para uso) e gliconeogênese (formação de novas moléculas de glicose) coincide com o incremento na captação de glicose muscular. A importância do estreito monitoramento da utilização da glicose pela produção de glicose hepática é ilustrada pela queda abrupta dos níveis circulantes de glicose. Exercício prolongado (h geralmente superior a 2) pode levar a hipoglicemia mesmo em indivíduos saudáveis, porque os estoques de glicogênio hepático esgotam, e a gliconeogênese sozinha não consegue manter o ritmo de produção de glicose em função do elevado nível de exigência pelo músculo. Isso também ocorre em pessoas com diabetes mantidos com insulina que também podem experimentar desequilíbrio na produção de glicose durante o exercício em função de respostas de captação hepáticas ineficientes. Isto leva a uma hipoglicemia que é a mais grave limitação ao controle metabólico nesta população. O aumento da produção endógena de glicose, que normalmente impede a queda da glicose durante o exercício é controlada por complexas reações neurais e endócrinas, se o exercício é prolongado (mais de 20 min), há uma diminuição na secreção de insulina e aumento na secreção de glucagon, catecolaminas, cortisol, entre outros hormônios, é observada. Este sinal para estas mudanças hormonais ocorre em função de um déficit na disponibilidade de combustível para produção de energia. Apesar do controle rigoroso da glicose no sangue, a hipoglicemia é muito comum também após o exercício em indivíduos diabéticos dependentes de insulina exógena. Trabalhos recentes indicam que pode haver insuficiência dos mecanismos responsáveis pelos aumentos normais na contra-regulação da insulina. O excesso absoluto ou relativo de insulina é uma ocorrência comum em pessoas que necessitam de insulina exógena, pois a demasiada insulina provoca uma diminuição na sensibilidade à insulina e pode sobrecarregar a glicorregulação normal por provocar loops de feedback durante o exercício, resultando em hipoglicemia. Nesse sentido, indivíduos diabéticos o importante antes de iniciar uma prática de exercício físico devem estar com a glicemia dentro dos padrões normais e não devem se exercitar por períodos muito prolongados (mais que 1h) em exercício de moderada intensidade e também não devem realizar exercício de elevada intensidade, pois ambas as situações podem ocasionar uma hipoglicemia. Vale lembrar que para diabéticos a prática regular de exercício físico pode levar a uma melhora na captação de glicose pelas células em função da melhora de mecanismos secundários responsáveis por essa função (enzimas GLUT-4 e VAMP-11), porem esse exercício deve ser orientado da melhor maneira para que os benefícios possam ser obtidos. Para os indivíduos normais, a recomendação é que, se forem se exercitar por períodos maiores que 1 hora, deve ser utilizada a ingestão de alimentos contendo açúcar, para evitar a hipoglicemia.