x Nenhum outro tecido do corpo humano pode variar sua taxa metabólica tanto quanto o músculo esquelético. Os músculos ativos podem elevar o nível de seus processos oxidativos em mais de 50 vezes, em relação ao estado de repouso. Esta variação significativa na taxa metabólica cria problemas para as células musculares porque, enquanto o consumo de oxigênio aumenta em 50 vezes, a taxa de remoção de calor produzido, dióxido de carbono, água e metabólitos tem, obrigatóriamente, que aumentar de forma similar. Para manter o equilíbrio químico dentro do organismo há um tremendo aumento nas trocas moleculares entre o interior e exterior das células. Quando os músculos entram em atividade física intensa, a capacidade de manutenção do equilíbrio interno em um nível que permita a continuidade do exercício é dependente da integração de vários sistemas de controle fisiológicos. Por isso, a maior parte das funções do corpo humano é afetada, de uma ou outra forma, pelo exercício físico, seja de maneira crônica ou aguda.



Prof. Dr. Per Olof Astrand

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Uma curva Perigosa? Conceitos de Limiar Anaeróbio e Lactato

Myers J e Ashley E. Dangerous Curves: A perspective on exercise, lactate, and the anaerobic threshold. Chest 1997, 111:787-795.

O aumento no lactato sanguíneo que ocorre em resposta ao exercício de intensidade progressiva ainda desperta muito interesse na fisiologia, isso porque ainda existe uma série de lacunas que necessitam ser preenchidas nas questões de escolha, conceitos e métodos de aplicação de limiares e a existência ou não de um limiar anaeróbio (metabólico). Na evolução histórica do lactato no músculo, ele passou de responsável por iniciar a contração muscular para até o que sabemos hoje, ou seja, que é um produto do metabolismo e que pode ser utilizado como substrato energético. Wasserman e McIlroy 1969 o demonstraraam que o limiar crítico existe quando a necessidade muscular de oxigênio excede a capacidade do sistema cardiopulmonar em supri-la; não tenho muita experiência com coletas de lactato, mas durante um teste de esforço o consumo de oxigênio continua a aumentar após o ponto de quebra, acredito mais em um atraso do metabolismo oxidativo em gerar o ATP na velocidade necessária para atender a demanda imposta pelo trabalho muscular intenso (deviso ao maior numero de reações do metabolismo oxidativo), o que leva a maior atividade anaeróbia, que por sua vez gera poucas moléculas de ATP cada ciclo porém em uma velocidade muito maior, isso poderia explicar o fato do acúmulo de Lactato, então o acumulo não seria relaionado a oferta de O2. Entretanto, esse ponto de vista pode ser facilmente colocado em cheque através de evidencias que demonstram menores []La após treinamento e quando verificado ou induzido maior débito cardíaco, ou seja, maior oferta de O2, porém esses aspectos ainda podem justificar a hipótese levantada, pois estas alterações podem levar a melhoras nos mecanismos de remoção do lactato e no caso do treinamento pode haver uma melhora no maquinário oxidativo, porém, estas são apenas especulações. Outras evidencias demonstram forte relação entre []La e [] de catecolaminas, esses são hormônios catabólicos liberados pela ativação do SNC parasimpatico (luta ou fuga), responsável pela rápida disponibilidade de substrato para o tecido muscular, o que pode reforçar a primeira hipótese levantadaem relação ao acúmulo de lactato. Com relação a fadiga, por muito tempo o lactato foi considerado o vilão e/ou principal responsável pela fadiga, hoje se sabe que o produto final da glicólise é o ácido lático, que no plasma se dissocia em H+ e os componentes remanescentes se ligam ao K+ e formam o sal denominado lactato. O íon H+ é o que leva a altreração no pH e este também é gerado por outros processos metabólicos, ou seja, a []La sanguíneo pode não ser um marcador direto do prejuízo na performance induzido pela acidose metabólica. O aumento na []La também está associado a um aumento na ventilação, isso em rezão da maior produção de CO2 e estimulação do sistema tampão para eliminar os íons H+ e o CO2 . Atualmente temos muito conhecimento acumulado em relação as questões discutidas anteriormente, porém, algumas controvérsias ainda permanecem, sendo muitas delas em razão de interpretação de conceitos que se apresentam de maneira confusa, entretanto, alguns mecanismos fisiológicos também necessitam ser melhores explorados, como por exemplo a existência ou não de um limiar metabólico.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Técnicas de treinamento para melhora na performance de endurance

Training techniques to improve fatigue resistance and enhace endurance performance. Hawley, Myburgh, Noakes and Dennis, Journal of Sports Sciences, 1997.

Já parece consenso na literatura que existem requisites mínimos para o sucesso em eventos de endurance, que incluem: um elevado VO2máx, capacidade de sustentar um elevado %VO2ma´x, elevada velocidade no Limiar de Lactato, capacidade de resistir a fadiga, elevada eficiência mecânica e maior utilização de gordura em elevada intensidade. Contudo, pouco se sabe sobre os efeitos do treinamento intensivo em atletas altamente treinados, nem sobre quais mecanismos fisiológicos são responsáveis por alterações específicas na performance. Os padrões de treinamento tem sido estabelecidos de maneira empírica e por observações de campo, com pouca participação cientifica na escolha do melhor estimulo para melhora na performance. Uma metodologia muito empregada é ritmo/tempo ou treinamento intervalado, aplicada após o atleta ter uma base sólida de endurance e consiste basicamente de exercícios sustentado, seguido de períodos de intervalos curto de corrida lenta. Isso permite ao atleta sustentar uma intensidade acima do seu atual estado-estável, o que poderia proporcionar diversos benefícios como, por exemplo, aumento na cinética do lactato, maior recrutamento neuromuscular e resistência a fadiga o que como conseqüência melhoraria a performance. Através do emprego dessa metodologia foi encontrada melhora no pico de potencia sustentada (5%), melhora de 90-120 segundos no tempo da prova contra-relógio de 40km de ciclismo, maior utilização de gordura em intensidades submáximas. Como visto no inicio tais repostas são associadas com o sucesso em eventos de endurance e a partir dos resultados encontrados parece razoável dizer que o treinamento intervalado tem efeitos importantes na melhora da performance. Contudo, algumas questões ainda merecem atenção, como por exemplo, qual seria a dosagem ideal a ser empregada de treinamento intervalado? E qual seria a relação ideal entre volume e intensidade no intuito de evitar o excesso de treinamento e favorecer a super-compensação?